Sugestão de roteiro para quem só tem 24 horas em Nova Déli
Autor: PEDRO CARRILHO
A fama de Déli entre os viajantes está longe de ser unânime. Muitos se desesperam logo no primeiro dia na capital da Índia e sentem grande alívio ao deixá-la rumo ao próximo destino.
Não é para menos: a cidade é extremamente poluída, seu trânsito é caótico e a primeira impressão ao percorrer suas ruas dificilmente será a mais animadora. Em meio ao caos incessante, no entanto, o esplendor de outras eras se faz presente, principalmente nas ruínas e grandes monumentos do auge do Império Mogol, e uma visita à cidade, mesmo que breve, pode ser bastante enriquecedora.
Com um pouco de planejamento, um visto indiano no passaporte e alguma disposição é possível deixar o conforto do aeroporto Indira Gandhi e fazer uma rápida, porém intensa imersão em meio ao caos e as cores do subcontinente.
A integração simples e prática do aeroporto à também moderna rede de metrô é motivo de inveja para os brasileiros. O metrô facilitou muito a vida dos viajantes independentes, mas, ainda assim, a melhor pedida para uma visita relâmpago é contratar com antecedência um táxi para o dia através de alguma empresa bem recomendada, como a Metropole. Da mesma forma, caso a estadia inclua pernoite, deve-se combinar o traslado com o hotel previamente reservado.
Não muito longe do aeroporto, o complexo de ruínas ao redor da torre Qutb Minar, ainda nos subúrbios de Déli, abre seus portões ao amanhecer, sendo uma ótima opção para começar o dia, quando ainda não foram tomadas por hordas de turistas. Se ainda for cedo demais, o motorista provavelmente irá convidá-lo para um chá em alguma das rudimentares barracas pelas ruas da cidade.
A imponente torre, que começou a ser construída em 1193 d.C. para comemorar a chegada do domínio islâmico ao subcontinente, é hoje uma das principais atrações turísticas da cidade. Os arredores da torre abrigaram quatro das oito diferentes cidades fundadas ao longo da história na área de Déli. A sétima, Shahjahanabad, é onde hoje fica a Velha Déli (a oitava é a Nova Déli do período colonial britânico).
E depois do plácido amanhecer entre as ruínas, é hora de respirar fundo e mergulhar no agitado centro histórico. Caminhar a esmo pelo denso emaranhado de vielas, bazares e mercados de especiarias que formam o coração pulsante da antiga cidade pode trazer a mesma descarga de adrenalina que um esporte radical.
Em meio a esse turbilhão surge imponente a Jama Masjid, ou Mesquita da Sexta-Feira. Uma das duas grandes construções ordenadas na cidade pelo imperador Shah Jahan (sim, o mesmo do Taj Mahal), a mesquita é a maior da Índia e chega a comportar 25 mil fiéis de uma vez. A outra é o enorme Forte Vermelho, não muito longe dali e também construído em meados do século 17.
A herança do Império Mogol não está restrita à arquitetura de seus monumentos históricos. Um dos mais tradicionais restaurantes de Deli, o Karim´s completa 100 anos de existência em 2013, e é uma ótima opção para provar da autêntica culinária mogol.
Hoje são duas filiais e sua linhagem descende dos chefes de cozinha da corte imperial. Seu cardápio é predominantemente não-vegetariano, e os carros chefes são os pratos de carneiro. Para tentar aplacar o ardor da capsaicina, não se esqueça de pedir um lassi, bebida típica indiana à base de iogurte.
Com as papilas gustativas em festa, é hora de seguir para o que talvez seja o mais belo monumento da cidade, o Mausoléu de Humayun(foto), outro grande imperador do período mogol. Construído no século 16, o mausoléu é um ótimo exemplo da incorporação de características locais ao estilo arquitetônico persa. Junto com a Qutb Minar e o Forte Vermelho, forma a tríade de Patrimônios da Humanidade da capital.
Se o dia em trânsito via Déli for uma quinta-feira, e o horário da conexão permitir, considere-se um sortudo. Em meio a um pobre, porém tradicional bairro muçulmano, próximo ao Mausoléu de Humayun, fica o Nizamuddin Dargah, o túmulo de um dos mais venerados santos do mundo islâmico. Todas as quintas-feiras, ao cair da noite, cantores e fiéis entoam cânticos qawwali, que são uma forma de música devocional sufi. A atmosfera é hipnótica e acompanhar o transe é uma das melhores experiências na cidade.
A joia de Agra é o Taj Mahal, mas o forte que leva o nome da cidade não é um passeio de se jogar fora.
Patrimônio mundial da Unesco, o forte-palácio é mais um exemplo da monumental arquitetura mogol, que fez de Agra sua capital.
A estrutura atual foi erguida por Akhbar, o Grande (1542-1605), tido como um dos grandes imperadores da dinastia. O forte é um dos principais exemplos da mescla de elementos hindus e islâmicos. O forte é imenso (380 mil metros quadrados), e a visita merece pelo menos uma tarde. Entre os pontos altos está o Khas Mahal tem belas pinturas sobre o mármore.
O Sheesh Mahal é decorado com mosaicos de espelhos. Os jardins geométricos também impressionam. Imperdível é a torre octogonal com nichos de frente para o Taj Mahal, que coroa a vista ao fundo.
Segundo a tradição, foi ali que morreu o xá Jahan, que mandou construir o grande mausoléu, depois de ser deposto por seu filho Aurangzeb e aprisionado no forte. Passou seus últimos dias contemplando sua grande obra e demonstração de amor.